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CONCHA E A MULHER


não passa de um "Canibalismo amoroso".

A cultura cristã coloca a Virgem Maria como a forma sagrada da maternidade, a personificação da obediência e devoção ao Divino, aquela que teve o privilégio de gerar o Messias, o Salvador da humanidade. A Igreja Católica, tenta até hoje manter essa imagem puritana, colocando a castidade e a virgindade como base para uma reputação irrepreensível, sendo Maria o ícone feminino, um exemplo a ser seguido. Outras culturas também possuem suas deusas, suas divas, suas heroínas, o povo grego, por exemplo, através de suas epopéias transformou a mulher, tanto em divindades, como em causadoras de desgraças e vilãs inconsequentes.
O Parnasianismo fez da mulher-estátua, a contemplação, a adoração ao belo e ao puro. Referências do Mundo Antigo contribuíram para a idealização da mulher, e esta se tornou cada vez mais ligada à imaginação. Mística, a figura feminina continua naquele mesmo patamar de exaltação erigido pelo sentimentalista. A liberdade imaginativa, antes ligada aos devaneios da intimidade, agora transita pelo exotismo da fantasia, que, no fundo, resultam na mesma extravagância, ora individual, ora universalmente. Os parnasianos revelam a mesma reverência à mulher, vista como deusa ou semideusa, admirada, identifica a mulher, transportando-a para o território íntimo, a partir de uma tensão de sentimentos. A imaculada Maria tem a mesma reverência à divindade Vênus, que nascida do mar, vinda ao mundo do interior de uma concha, simbolizando o culto a forma, a perfeição estética, a entidade perfeita, enquanto Maria representa o casto, a postura moral, geradora de vida, o matriarcado obediente, digna de adoração e devoção. A poesia parnasiana depois de descrever como é a sua arte poética, como esculpe, cinzela, aproxima a própria musa de uma estátua, que é a superposição de Vênus e Maria, fundindo no ideário parnasiano, as imagens pagãs e cristãs.
A feminilidade como um todo, deveria ser adorada e colocada a salvo de um mundo perverso, os positivistas puseram a mulher em um pedestal, sendo ela a base da família, que por sua vez era a pedra fundamental da sociedade, seu lado sentimental era mais aflorado, diferente do homem, e segundo esses mesmo positivistas, era por meios dos sentimentos que dependia a regeneração da sociedade.
A contemplação do feminino pelo masculino é, mesmo que muitas vezes negado, algo natural. A curiosidade do homem em relação à mulher sempre existiu e vai continuar existindo, pois a mesma traz suas vontades escondida e, somente expõe-se, quando obtiver a confiança desejada. Sua racionalidade é superior ao do homem, pois este age por instinto, o fervor hormonal do macho sobrepõe ao sentimentalismo consciente da fêmea. Isso faz com que, o “observar”, o “ver desnudar”, seja prazeroso, o voyerismo é algo que satisfaz ao masculino, pois representa a dominação, pois induz alguém a saciar seus anseios, a adoração ao belo que pode ser visto e tocado, enquanto que, para a mulher, representa um deleite ao ego, ser reverenciada, desejada. Satisfazendo a si e ao mesmo tempo transmitindo a sensação de dominação, pois ela é que atiça o desejo e, entretanto, tem o poder de decidir se irá ou não, concretizar o final desejado pelo admirador.
Muitas culturas impõem o véu para cobrir e encobrir o corpo da mulher, isto faz com que, aumente o interesse do homem ao sexo oposto e ao mesmo tempo cubra aquilo que, por ventura, possa vir a corrompê-lo. O desejo deve ficar reprimido, mas muitas vezes, ficando este incontrolável, propõe-se uma troca. O ato de possuir, usufruir, usar, dá lugar ao admirar, imaginar, fantasiar, tendo apenas a observância da imagem, podendo ela ser física ou mental, mas sempre com o intuito de apaziguar as vontades. É um jogo erótico, exercitando ao extremo nas tensões eróticas e estéticas.
Mas nem sempre a mulher se põe na passividade, muitas vezes ambos se colocam em atitudes de violenta posse, no Parnasianismo, a poesia deu um ar sensual e dominador, também a mulher em sua totalidade, e não como fizeram os Românticos, que atribuíam a devassidão apenas as mulheres de cor, induzindo-se a ter uma visão pura das européias brancas. O poeta parnasiano, Olavo Bilac, em seu poema “Beijo Eterno”, retrata, sem definir a cor, o desejo ardente de uma mulher, sua tara, sua vontade de satisfazer seus próprios instintos, aflorando um canibalismo amoroso, onde o eu lírico escuta sua amada dizer [...] Morde também!/ Ai! Morde! que doce é a dor/ Que entra as carnes, e as tortura/ Beija mais! Morde mais! Que eu morra de ventura,/ Morta por teu amor [...] com isso, tem-se a visão de devoradora insaciável de uma mulher, enlouquecida para apagar uma chama de desejo que a consumia, tendo um parceiro que nada mais era, que um objeto de alívio, ou seja, o homem era um coadjuvante de um momento onde a fêmea importava-se apenas com seu próprio prazer.
Seguindo essa lógica, de mulher devassa e possuidora, colocamos isso em determinadas culturas ao redor do mundo. Em alguns lugares, há lendas em torno do feminino. O mito em torno do órgão sexual da mulher é encontrado, tanto em tribos das regiões da América, como na África. Segundo eles, a vagina possui “dentes”, e em alguns rituais, se extirpam o clitóris e o jogam em lagos, que após se transforma em “sanguessuga”, numa visão parasitária da mulher. Entre índios da América do Norte, o ritual do casamento possui algo menos mutilador, mas tão constrangedor e depreciativo quando o primeiro citado, a mulher antes de ser desposada pelo esposo, é submetida a fazer sexo com os “corajosos” homens convidados, que tem a função de diluir o “espírito perverso” que habita dentro da vagina e que poderia castrar o marido.
A mulher esfinge é outra lenda, a qual retrata o suposto enigma que a mulher detém, ou você a interpreta, ou é dominado e devorado por ela. Devorado não no sentido no ato de comer, e sim com a intenção de retratar o quando o sexo feminino é indecifrável, é enigmático e o cuidado que o homem deve ter ao relacionar-se com ela.
A pedra e a água são elementos constantemente usados por aqueles que tentam retratar metaforicamente a mulher, seja a esfinge de pedra no meio do deserto, tendo aqui o sentido de origem, remetendo ao estado primordial, confundindo-se com a Terra-Mãe, seja com aquática Vênus, gerada no mar, no interior de uma concha, fazendo aqui uma referência ao útero, ao líquido, concha se assemelha ao órgão feminino, sendo visto como a introdução, geração e exposição da vida.
O Parnasianismo usa de diversos objetos em sua poesia para expor a figura ou algo que lembra o feminino. Alguns deles fazem referências diretas ao corpo da mulher, sendo o vaso, a concha e a taça. Todos dão ideia de algo que se pode colocar alguma coisa dentro, sendo o mais aceitável, todos recebem ou guardam líquidos em sue interior. Essa visão de depósito é facilmente associada à geração de vida, uma vez que, o ser humano é gerado dentro de um corpo feminino, em um ambiente cheio de água, o líquido semiótico da placenta é um exemplo claro disto, tem-se também a noção de sorver, de absorver, pois esses objetos, por guardar líquidos, irão transmitir estes a alguém, ou seja, a taça, por exemplo, é a própria mulher a ser sorvida. A concha representa o leito, o abrigo, sendo ela derivada do mineral, que lembra terra, associa-se a isso o sentido de origem, a mulher, mãe, geradora, berço acolhedor, que dá a vida. Todos possuem um sentido de princípio, de começo e, também de fim, pois a concha tendo o sentido de acolhimento, faz da caixa mortuária, uma forma de concha, de abrigo de um corpo já inerte.
Passando da representação mineral para a mítica, em que há uma humanização crescente da imagem. Da estátua passa-se à sereia e à serpente, para alcançar uma representação mais completa na figura de Cleópatra, por sua vez serpente, sereia e representante mítica da mulher fatal. A sereia que o Parnasianismo e o Simbolismo atualizaram dentro da tradição mitológica e literária, vai incorporar-se mais abundantemente na poesia moderna, seja num surrealismo, seja num moderno de raízes clássicas. No primeiro, a mulher-sereia surge sedutoramente ao lado de divindades sobrenaturais, vale lembrar que as sereias cantam e seduzem, mas não fazem amor, enquanto que no segundo, ela corporifica os dilemas ideológicos do indivíduo, entre a santa e a prostituta.
A mulher-serpente apresenta um plural de significados, é um ser ambíguo que compartilha os valores positivos e negativos, a serpente está relacionada à espiral, forma circular, aberta, cujo movimento é contínuo e repetido, é extensão, emanação, desenvolvimento, continuidade de progresso, círculo da criação, ligando-se ao simbolismo erótico da genitália, da concha, da fertilidade, pois representa os ritmos repetidos da vida, o caráter cíclico da evolução. A presença de dois orifícios simétricos em seu corpo, boca e sexo, tornam-na um equivalente da mulher. Ela é um símbolo uterino, matriz da qual surge o ovo, semente de nova vida. Segundo a Bíblia, Eva e a serpente são os motores ativos da mudança na maneira de vida no Jardim do Éden, Adão, embora presente na cena da sedução de Eva pela serpente, nada diz, não impede sua ação, ao contrário, deixa-se levar por elas. Adão é um não ser, aquele que é conduzido, enquanto Eva e a serpente, face da Deusa, é a que conduz. Ao comer do fruto do conhecimento, Adão e Eva tomam ciência de que estão nus. A descoberta da nudez é um ponto importante, pois permite descortinar o caminho que levou a Igreja a associar o “pecado da curiosidade”, o “desejo pelo conhecimento” com o sexo enquanto luxúria. A nudez de Adão é secundária, a de Eva é perigosa.
Ao relacionar a mulher com o natural e o carnal, enquanto o homem com Deus e o espiritual, reduziu-se a função da mulher à procriação, mas criou-se um temor a essa força inquietante, esse corpo que escapa ao domínio do espírito, um ser governado pelos órgãos e, em particular, pelos sexuais, a mulher é inteiramente um ser natural, o elemento essencial da natureza, uma força ativa que estabeleceu e mantém a ordem do universo, nela se põe a função de viver e morrer.
A história de Cleópatra insere-se no lado negativo desse contexto de mulher frívola, amante mordaz e possuidora de uma ambição desmedida, sendo que o sentimento mais evidente é o amor incontestável a um homem, em que privada deste amor, ela foi capaz de tirar a própria vida. Outra figura que chama atenção é a da dançarina Salomé, uma mulher sedutora, considerada uma serpente aliciadora e de serpenteada dança. Ao dançar para Herodes, a princesa conquista a possibilidade da realização de qualquer um de seus desejos, mas, influenciada por sua mãe, pede somente a cabeça de João Batista. Sedutora e cruel, Salomé encarnaria o modelo da mulher decadente, que une desejo e morte, volúpia e fatalidade, mulher e abismo.

A dança tem um sentido especial e faz uma ligação entre a mulher e a serpente, pois ambas possuem seu jeito lânguido de expor as formas, ambas serpenteiam, causam estranhos comportamentos nos homens, sentimentos diversos, desde o medo à curiosidade e o desejo de afrontar e explorar os mistérios destes seres misteriosos, combatidos, perseguidos e admirados.

Salomé realiza a dança dos sete véus, ocultando e escondendo sua nudez, com isso criava um espaço de desejo, um ritual antigo e que hoje se pratica, industrial e comercialmente, com o nome de strip-tease. A vestimenta funciona como cortina que se abre e fecha ao mesmo tempo, que mostra e oculta, num jogo que salienta os ornamentos e valoriza o corpo, confundindo-se e entrelaçando-se.
No Romantismo, a dança não estava associada a festim ou a orgia, o que se descreve são as festas burguesas, em salões aristocráticos, onde a valsa era o ritmo das mulheres elitizadas, bem vistas socialmente, enquanto que, os ritmos mais quentes e tentadores, eram praticados por prostitutas, negras ou mulatas, fazendo uma distinção clara de comportamento. O romântico apresentava o ritual em que a mulher se despe, como se ela estivesse em um templo, despindo-se com sutileza e graça, um ato conveniente ao imaginário da época.
Nos poemas parnasianos, dá-se um toque artístico e erótico a esse ritual, analisa o corpo da mulher como um objeto disfarçado, havendo uma técnica, uma habilidade que confere as dançarinas uma indiferença fria de hábeis praticantes.
A imagem de estátua, da pedra a ser lapidada, escultora a ser contemplada, passa a ter outro sentido, essa mesma estátua começa a ter movimento, no entanto, o mistério e curiosidade, continuam. Esse movimento ganha um sentido, esse sentido passa a possuir erotismo, as curvas mexem-se, o ardor e a fantasia tomam forma, e essa forma, chama-se mulher.
É relevante observar que a poesia erótica parnasiana constitui, sob outro aspecto, uma objetivação maior em relação á lírica erótica do Romantismo. A mulher não é mais descrita na rede, ou simplesmente desfilando vestida nas ruas e salões. Ela se despe na cama e na alcova. Agora em vez de desnudar o mármore no culto à beleza, desnuda-se a mulher mesma. Dentro da estética e ideologia parnasiana, o poema é sinal de uma libertação corajosa, onde o critério de beleza vai ser o aval de aceitação da nudez. E a nudez final não é condenada e nem condenatória. O estético resgatou o remorso do pecado e tornou-se veículo de sublimação de um desejo problemático.

Durante centenas de anos, os manteña dominaramo comércio marítimo na costa americana do Pacífico.Novos achados estão deixando os arqueólogos cadavez mais fascinados por esses hábeis navegadores

Carla Aranha | 01/12/2005 00h00

O ano é 1526. No litoral do Pacífico, na costa da América do Sul, o navegador espanhol Bartolomé Ruiz leva o maior susto de sua vida. Ele abre e fecha os olhos, incrédulo, mas é tudo verdade. À sua frente, surgem embarcações a vela que levam até 20 pessoas cada. A tripulação, indígena, não se intimida quando vê os europeus. Ruiz, que navegava com apenas oito homens, decide não enfrentá-los. Ele havia acabado de se encontrar com os manteña, o povo que foi apelidado pelos pesquisadores de “fenícios da América” – em referência à civilização da Antiguidade que se notabilizou pelo comércio náutico. O encontro com os europeus selou a sorte dos nativos, originários de onde hoje é o Equador. O intercâmbio feito com locais tão distantes como os atuais México e Chile seria aniquilado pelos conquistadores. Agora, 500 anos após o primeiro contato, o passado do povo que dominou as rotas do Pacífico americano começa a vir à tona.

Nos últimos anos, pesquisadores vêm encontrando restos de embarcações e objetos na baía de Caráquez, na ilha de La Plata e em Chirije, na costa equatoriana (veja mapa na pág. 49). Tudo isso permaneceu preservado durante séculos, já que, no ano 700, um vulcão entrou em erupção e cobriu a região de lava. Mas tempestades provocadas pelo fenômeno El Niño desenterraram esse tesouro arqueológico. “Estamos descobrindo importantes registros da cultura manteña na praia, é incrível”, diz Ruth Cantos de Moura, administradora do recém-inaugurado Museu Arqueológico da Baía de Caráquez. “Esses achados mostram como outras civilizações, além dos incas, estavam desenvolvidas quando os espanhóis chegaram. Os manteña tinham rotas marítimas e comerciais tão sofisticadas como as dos europeus da época.”

Eles vendiam desde tecidos com ricos bordados até adornos de ouro, prata e platina. Mas o objeto responsável por impulsionar esse intenso vaivém pelo Pacífico foram as enormes e lustrosas conchas Spondylus. Elas eram sagradas para os manteña e fizeram com que eles se lançassem ao mar para buscá-las. “A concha era associada ao órgão sexual feminino, simbolizava a fertilidade. Era usada em rituais religiosos e como adorno pela elite. Era quase tão valiosa quanto os metais preciosos”, diz o arqueólogo Javier Véliz Alvarado, do Museu Salinas, no Equador.

Mas colocar as mãos numa Spondylus não era nada fácil. A concha existia em grande quantidade na ilha de La Plata, a 25 quilômetros da costa do Equador. O problema é que os espécimes, que podem facilmente atingir o tamanho de um prato, ficavam a até 30 metros abaixo do nível do mar. E, para chegar à ilha, era preciso enfrentar duas intensas correntes de ventos, além de fortes correntezas marítimas.
Os historiadores acreditam que, há cerca de 3 500 anos, os habitantes do litoral equatoriano tenham feito barcas rudimentares com o objetivo de chegar à ilha. “As travessias devem ter constituído um grande aprendizado. Pode ter sido aí que começaram a adquirir conhecimento sobre navegação e construção de barcos”, afirma Alvarado.

Navegar é preciso
Segundo os historiadores, a Spondylus não era só cultuada no Equador. Foram encontrados vestígios de adoração também no Peru, norte do Chile, América Central e México. Para comercializá-la com outros povos, os manteña precisavam de barcos maiores, que resistissem bem a longas viagens. “Eles já navegavam grandes distâncias, de até 1 200 quilômetros, mas não eram mercadores ainda”, diz o historiador e arqueólogo Victor Hugo Arellano, membro-fundador da Academia Equatoriana de História Marítima. “Só a partir do século 5 a.C. é que eles se tornaram grandes comerciantes.”
As técnicas navais continuaram se desenvolvendo e, no ano 500, as condições já eram perfeitas para que os manteña se tornassem os fenícios da América. Eles utilizavam o algodão para fabricar as velas das embarcações, construídas à base do chamado palo de balsa, obtido de uma árvore que só existe no litoral do Equador, a Ochroma logopus. Sua madeira é muito leve, se expande com a água e jamais afunda.
As embarcações mediam 6 metros de comprimento por 3 de largura, em média. Numa extremidade ficava uma casinha de bambu coberta por um telhado de folhas, usada para a tripulação descansar. Na outra, eram estocados alimentos e bebidas. Exímios pescadores, os manteña não passavam fome a bordo e agüentavam viajar até 90 dias. “Bem diferente dos espanhóis, que pegavam mil e uma doenças durante as navegações e sofriam com a escassez de alimentos nas caravelas”, afirma Jaboco Santos, diretor do Museu Arqueológico da Baía de Caráquez.
Quando os espanhóis chegaram, o comércio marítimo dos manteña vivia seu apogeu. Suas embarcações estão nos relatos dos primeiros europeus que estiveram na costa americana do Pacífico. “Elas levam toda a sorte de mercadorias, e a carga que podem suportar é grande, de 2 toneladas, e isso sem que se encham de água”, escreveu o próprio navegador Bartolomé Ruiz em uma crônica de viagem de 1526.
As rotas comerciais eram tão bem estabelecidas e organizadas que até mesmo os poderosos incas preferiram comercializar com os manteña a dominá-los. Como os fenícios da América também navegavam por rios, iam até o interior para negociar. “Foram encontradas cerâmicas dos manteña e a Spondylus em cidades incas, o que demonstra que as culturas conviveram”, diz o arqueólogo Javier Véliz Alvarado.
As recentes descobertas permitem supor que, nas cidades dos manteña, podiam viver mais de mil pessoas. As casas eram de madeira, com piso de pedra e teto de palha ou folhas. Na hierarquia social, a elite eram os sacerdotes e donos de embarcações, a quem pertenciam as residências maiores (geralmente situadas nos locais com vista privilegiada). Depois vinham os artesãos, agricultores e caçadores. Os catadores de conchas eram a classe subalterna (veja quadro na pág. 48).
Plantava-se de tudo: mandioca, milho, batata, tomate, cacau, alho e abacate. Eles também caçavam, principalmente veados, e criavam lhamas e patos. Quando os espanhóis chegaram ao Equador, no início do século 16, dominaram primeiro as civilizações dos Andes. Só depois se deram ao trabalho de subjugar os manteña. “Eles só não foram dizimados porque os espanhóis estavam de olho nas riquezas dos incas”, diz Victor Hugo Arellano. Mas a interrupção de suas rotas comerciais, feita pelos conquistadores, acabou com seu modo de vida.
O povo manteña existe até hoje, morando nos mesmos lugares que seus antepassados. É verdade que perderam o comércio marítimo, mas ainda permanece a lembrança de seu passado glorioso. Na Baía de Caráquez, é comum ver barcos exatamente iguais aos de mil anos atrás, feitos pelos nativos. A cada mês de outubro, eles fazem uma celebração em homenagem a sua história gloriosa, saindo pelas praias do Pacífico nessas mesmas embarcações.

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Autor Unknown

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